sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Duas bolas, por favor

Danuza Leão


Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.

Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.

A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de ‘fácil’).

Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.

E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em ‘acertar’, tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação…

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão…

Às vezes dá vontade de fazer tudo ‘errado’.
Deixar de lado a régua,
o compasso,
a bússola,
a balança
e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.

Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: ‘Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora’…

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga:
cinco bolas de sorvete de chocolate,
um sofá pra eu ver 10 episódios do ‘Law and Order’,
uma caixa de trufas bem macias
e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK?
Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . . .

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Caixa de Pandora (Yesim Ustaoglu) é uma co-produção envolvendo a Turquia, França, Alemanha e Bélgica.

Passou ontem, num dos canais do telecine.
Dormi e não assisti até o final.

A historia passa-se em Istambul, onde tres irmão tem que lidar com seus conflitos e situações provocadas pela mãe com Alzheimer.
Entre situações comoventes, há alguns episódios engraçados.

Do que assisti, gostei muito e lembrou-me de algumas situações familiares.
Enfim, em março completa um ano sem mamãe.
Saudades... Tristeza...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Joãozinho Traça

Luiz Guerra


Não chega a ser o fim, mas é um péssimo sinal.

O nosso Joãozinho Traça, livreiro de rua que os visitantes do meu galhodearruda.com já conhecem desde começos de 2005, não tem mais como abrir todos os dias o seu negócio abençoado. Agora, além do merecido descanso domingueiro junto à família, ele fecha também duas ou três vezes na semana para poder desincumbir-se de pequenas tarefas em residências de Marechal Hermes, embolsando com isso uma grana bem maior do que a féria obtida com os seus tabuleiros de revistas e brochuras. Afinal, o cara tem mulher, filhos, cães e gatos, paga aluguel e autonomia, e mora longe (em Japeri, vejam vocês). Se, como acontece com uma freqüência desalentadora, não vende nem o que dê para comprar uma quentinha executiva (sete ou oito merréis, por aí), como recusar-se a cuidar do jardim da D. Ofélia, carregar montes de tijolos para a escola pública ou fazer faxina nos sobradões do pedaço? Dá uma tristeza danada ver o nosso amigo azafamando-se pelo bairro, quando sabemos que ele não tem perfil para trabalhos dessa natureza. De certo ponto de vista, como gosta de brincar Dostoiévski, é um homem de letras, um abnegado rapagão metido há vinte e três anos no comércio informal de livros.

Merecia sorte melhor esse livreiro suburbano de rua, resistência pura num país em que se lê tão pouco (menos de dois livros por ano cada cidadão brasileiro; é de amargar). Não sei como ainda não largou tudo e torrou os seus volumes nos grandes sebos do centro da cidade, a exemplo daqueles que sucumbiram antes dele. (Aqui e em tantos outros pontos do subúrbio, onde ninguém se arrisca a tocar uma livraria que se preze, ou a brigar por bibliotecas públicas modernas, com programas criativos de incentivo à leitura. O que temos vagamente parecido com uma biblioteca pública amontoa-se numa saleta de fundos do Teatro Armando Gonzaga, e dou um doce para quem me apontar um morador deste lado do bairro que a conheça. Não vale o cronista, claro.)

Na boa época das vacas gordinhas (no meu caso específico, gordas seria um despautério), bem que eu teria bancado o valor dos seus bicos só para ele não abandonar o posto. Disse-me um dia que consegue tirar entre dez e quinze reais por biscate. Caí das nuvens. Se isso é melhor do que ele arranja com a venda dos livros, então a coisa vai muito mal por aqui, ninguém está lendo nada.

Mas Joãozinho Traça é um sujeito e tanto, sempre bem-humorado. Hoje mesmo, enquanto eu passava em revista duas pilhas de livros recém-chegados, vindos auspiciosamente da casa de uma professora de história (temos aqui um Rocha Pombo, Antonil, Macário, Euzébio M. Coelho), ele chegou-se a mim com um volume novinho em folha, da L&PM POCKET.

"Este aqui é a sua cara", disse, com um ar timidamente zombeteiro. "Tenho certeza que o senhor vai gostar."

Voei na mão dele. Era o Notas de um velho safado, de Charles Bukowski, num precinho bem camarada. Mas minha cara, por quê? Cada uma!...

 
Luiz Guerra, é poeta, cronista e tradutor carioca



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Reflexões da Nany


Cães são capazes de dissimular suas atitudes

 

Cientistas do Instituto Max Planck descobriram que os cães se comportam de maneira diferente quando observados. Os pesquisadores colocaram comida na frente dos animais e os proibiram de tocá-la.

Enquanto havia pelo menos uma pessoa na sala, os animais quase nunca chegavam perto da comida. Mas, se a pessoa deixava a sala, os animais imediatamente corriam em direção aos alimentos. Os resultados indicam que os cães apresentam mente reflexiva, capaz de usar experiências passadas para produzir soluções para novos problemas.


 
 
Ah! Mas não é preciso estudo de cientistas para ter certeza de que eu penso. E como penso! Por exemplo: Se a filha está comendo mexirica e esquece de me dar um gominho que seja, não tenho dúvidas... Vou e faço um cagalhão lá no quarto dela


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Memória


“... a memória não se faz presente, de uma só vez, mas se desdobra em vários tempos...”   -  Freud a Fliess/Carta 52


É como um trem composto por vagões de memória, habitados por sentimentos vários.

Tenho um poema que escrevi há tempos – Coração Vazio – que fala de trem, vagões, estações e vinho. É um dos meus filhotes favoritos. 

Hoje, sentei-me no vagão da nostalgia e folheando arquivos empoeirados, deparei-me com as palavras de amigos que há muito se fazem ausentes.

Alguns se foram deste mundo e deixaram seus registros, outros se perderam no tempo e no espaço infinito da vida (talvez para sempre). Muitos foram resgatados num cantinho criado pela Frô: Poetas Lusófanos .

Tive notícias de tantos através do Google. Gravei seus caminhos e, entretanto, deixo-os irem, sem ao menos esboçar um aceno.

Porquê? Não sei ao certo. Desconfio que seja pelo fato de que os interesses, antes comuns, tenham se tornado distintos.

Mesmo assim, me são caros e, muitas vezes, sento-me em silencio ao lado deles servindo-me fartamente no prato de suas palavras.

Hoje, a nostalgia é imensa. Paralisou os atos, os fatos. Deixou apenas que as palavras convertam-se em lágrimas de saudades,  caindo fartamente pelos olhos.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Arte em família

Quando as netas resolvem fazer arte, vão parar no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=tpfRdC7RYoQ

Cansaço

Pesa-me o corpo.
Pesa-me a alma,
pesam-me as
dobras do tempo,
pesam-me os
vincos da cara.
Atrela-me
as costas
a carroça
do mundo.
Pesa-me
a carga
da vida.

Ah!...Quem me dera!

Voar espaço,
navegar o
infinito.
Ser ave
liberta

por
um
minuto.....
Bobagens!...Quimeras!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


Tenho ouvido e lido tantas e tamanhas palavras, que penso aonde foi parar o sentido conotativo do vocábulo.
Penso, ainda, que a palavra deveria ser para o indivíduo, o bem maior do seu caráter.

A realidade que escorrega das palavras-notícias explodindo nas telinhas, que saindo das rádios adentram aos ouvidos, o sangue, o terror, a destruição, a violência que preenchem as manchetes da mídia impressa e a omissão daqueles que podem (poderiam) ter tomado atitudes para prevenir o caos onde vemos mergulhar o planeta, me causam um grande cansaço.

Cansaço na alma, que se queda atônita sentada numa grande impotência.
As palavras voam dispersas e só me resta, sem ânimo, ouvi-las se debatendo nas paredes do meu cérebro entorpecido.

Não sei o que dizer. Não alcanço as palavras.

E a babel se instala.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Antropólogos encontram muro de antiga cidade maia

Cientistas do Instituto de Antropologia e História do México (INAH) divulgaram nesta quinta-feira a descoberta de um muro em um sítio arqueológico maia no no sul do estado de Chiapas. Junto ao muro estava uma estátua do hierarca mais poderoso da antiga cidade de Toniná, cujo nome não foi divulgado.
Segundo informações da agência EFE, os pesquisadores relataram ter encontrado no local também textos glíficos com o nome do hierarca da antiga civilização. Os textos ainda não foram decifrados
http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI4248104-EI238,00-Antropologos+encontram+muro+de+antiga+cidade+maia.html

A lógica infantil

Acho que o ser mais lógico que há no planeta é a criança.
Dia destes saí com minha neta de tres anos para pegar um chuveiro na autorizada, e na volta, entramos em uma croqueteria, pois ela queria um “firante com pitas de catapiry e mazzarella”.

Quando voltamos para casa, mais para o final da tarde - saímos antes do almoço - a mãe dela perguntou se havíamos comido alguma coisa fora.
No que ela, de pronto respondeu:

— Não. Comemos uns salgadinhos com suco de uva, dentro.

Escrever

Há tempos
não pego
a palavra
pelo rabo
lhe torço
o pescoço
e a faço
cuspir despautérios
lado a lado

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Impressionante!

Ron Mueck, australiano, desde criança desenvolveu habilidade manual, fazendo seus próprios brinquedos e, ao longo dos anos especializou-se em confecção de títeres (marionetes, fantoches) e bonecos de vários tamanhos.

Criou, em Londres, uma pequena empresa especializada em objetos e efeitos especiais para atender às solicitações de agências publicitárias. Na televisão colaborou com efeitos especiais no Muppet Show e em Sesame Street.

Hoje, expõe seus trabalhos na National Gallery e Na Tate Gallery de Londres, no Hirshhorn de Washington, no Modern Art Museum de Fort Worth, no Modern Art de San Francisco, na National Gallery of Canadá em Ottawa, na National Gallery of Austrália em Canberra.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Invasão de Mins

Socorro, fui invadida!

Quem é essa que me olha
Olhar torto
Boca em ricto
Vincos fundos
Feitos pela vida

Ao lado
essa outra
ar suave
fala mansa
quase menina,
que engana,
não fosse o brilho felino
no fundo da pupila
revelando a libertina.

Meio tonta
procuro abrigo
no colo dessa,
que de pronto exita.
tem ar cansado
de forças vencidas.

Socorro, fui invadida!

Me procuro e não encontro.
Mas vejo ali no canto, retraída,
uma que parece ter saído
de foto amarelecida.

Ainda traz nos olhar o brilho
de esperanças não perdidas.
Faz dos braços aconchego
para as desilusões da vida.
Ama, confia, se entrega,
não percebe as armadilhas.
É mulher sendo menina.

E então no fim do ato,
do palco desta vida,
que lhe seja dada a fala,
última de fato e direito,
pois reconheço enfim,
ser ela o EU de mim.